sábado, 10 de abril de 2010

As Horas


Em todos os nossos atos vemos refletidos o passar das horas, isto é o que fica; é o que antecede, precede cada acontecimento. Já quando amanhece, então acordamos, as horas passam. Chega o almoço, digestão, passam - se mais horas. Jantar, horas, sono.

Bom para quem tem muitos afazeres, uma grande quantidade de horas muitas vezes não é suficiente. O tempo passa depressa e então só existe o cansaço e o sono pode ser profundo, assim é que pode - se viver. E o que aconteceria para alguém que somente pudesse ver as horas passarem? Que não pudesse aproveitá - las? Que visse os dias, os momentos, sua vida, tudo passando e não conseguisse fazer absolutamente nada? Certamente morreria. De tristeza.

Quase uma ironia do destino, que aqueles que mais pudessem aproveitar as horas com o que realmente gostariam de fazer, não o façam. São infelizes. Alguém que tenha tempo livre é infeliz. Não existe preenchimento que seja útil. E qualquer um, por mais interessante que possa parecer passa. E a vida também passa.

E sobre passagens, indas e vindas, eu me recordo de ônibus, trens, carros. Neles também são passadas muitas horas, muitas vezes improdutivas. Passa - se quase uma vida, dirigindo ou sendo dirigido, e nem ao menos sente - se o vento, a chuva. Sempre para - se nos mesmos pontos, da vida rotineira, do lugar para onde precisamos ir - não e de maneira alguma para onde queremos. O bom é que respirar não gasta tempo, senão estaríamos perdidos, mortos e velhos de vez.

Por isso mesmo que as pessoas sempre ressaltam: aproveite o seu tempo. Não deixe as horas passarem para sempre, viva - as. Cada minuto, segundo, "remelexo" do ponteiro. Passar horas é muito mais divertido do que deixá - las passar. Depois não diga: 'ah, minha vida passou!'. Passou e você nem viu, sua vida passou e você foi cego. Não, não deixe que isso aconteça com você. Não reclame do tic-tac, siga - o. O movimento é horário. Aprenda a reger as horas.

FOTO: JULIANA SORATI - Five 'n something

quinta-feira, 1 de abril de 2010

No escuro




A tarde caiu, o sol se pôs. Não acendi as luzes, continuo meus passos no escuro; percorro corredores sob o sol de uma música melancólica e inebriante. Eu já estou tão cansado de brincar. Gostaria de ter razões para continuar, me parece tudo tão tranqüilo que eu tenho medo de parar de respirar e nem ao menos perceber.

Justamente eu, que sempre quis um pouco de espaço, agora tudo parece tão espaçoso que nem as flores florescem mais. Bem, eu poderia começar do começo, mas me faltam folhas e sementes. Tudo me parece tão amável ao redor de onde me encontro, mesmo assim eu enxergo fronteiras. Acho que não poderia existir do outro lado.

Sinto cheiro de queimado, algo foi destruído - certifico - me de que não sou eu mesmo, graças a Deus eu ainda tenho sentidos! - não existira problema se eu chorasse, não tem ninguém olhando. Mas eu estou tão cansado que as minhas pálpebras doem, e o meu coração sofrega.

Eu estou tão cansado que continuo no escuro, não acenderei as luzes, a noite cairá. Então serei tomado pelas trevas, mas eu não desapareço, depois virá a luz e eu continuarei aqui. Apenas gostaria de ser alguém, para ficar marcado, para existir por mais tempo... Eu tenho espaço demais e pouco tempo. Percorro os corredores, discorro a vida.