quarta-feira, 30 de junho de 2010

Maior idade.


Eu bem poderia dizer que não muda nada, mas é uma data e leis que agora são aplicadas a mim. Esta data, mesmo que mecânica e imutável, demarca sim, todo o meu crescimento ou regressão; assim como as linhas da minha face e todas as cicatrizes e machucados que tive. É tudo o que me possibilita adentrar para a 'maior idade'. É a justificativa para todas leis e ordens que a partir de hoje também se direcionam a mim. Não sou mais intransponível, impune.

As vantagens que me são asseguradas, para não tornar o todo tão ruim, para mim de nada valem. Pilotar um veículo automotivo não faz de ninguém melhor ou pior, tampouco independente (sem postos de gasolina ou mecânicos, continua-se dependente das próprias pernas, como todos os outros). Pequenos erros e distrações também podem ser mortais sob esta perspectiva, mas é isto o que a maioria deseja: tornar-se mais imponente, mais perigoso. Então regam o volante com bebidas, para diminuir o medo, a própria segurança instintiva. "O homem se engana tanto".

Existe um outro lado, um lado seguro. Tornar-me doador por própria vontade, ajudar a salvar, ao invés de incutir mais perigo ao mundo. Pode parecer heroísmo romântico, mas não é mais do que obrigação - com o futuro e pela possibilidade de algum dia precisarmos. Também é egocêntrico pelo fato de sermos frágeis. É uma linha necessária, mas que vive esquecida.

Não, não muda nada realmente. Não muda nada se você não decidir que suas mãos também podem auxiliar. Não muda nada se você continuar só, se somente acrescentar-se a grande parcela. Aos 18, você será apenas mais um adulto respirando no mundo. Mais um motorista emitindo monóxido de carbono nos ares das cidades. Mais um eleitor cego. Não muda nada se você não der um salto mental. Não muda nada se você não mudar.

O mundo é infinito de possibilidades e escolhas, eu não posso impor as minhas sobre ninguém. Hoje sou mais um adulto, e por toda essa carga de responsabilidade social, eu quero fazer jus. Quero provar para mim mesmo, mais do que ao resto, que os anos pelos quais passei trouxeram aprendizado. Que eu posso ser homem no verdadeiro sentido: o da hombridade. Do homem que conhece seus direitos e deveres. Mais do que a lei imposta e mal organizada. Mais do que carros e coisas que eu possa comprar. Mais do que cartões de crédito ou contas em banco. Para aquele que está em um hospital, e nunca saberá quem sou, quem fui, o que fiz ou que carro tenho. Mas que terá sangue meu nas veias. É para ele que eu dedico os meus 18 anos. Minha maior idade.

domingo, 20 de junho de 2010

É que eu quero agradecer e muito pelo fato de poder enxergar. Pelo fato de não viver no escuro e poder ouvir. Pelo fato de apreciar a música e poder cheirar. Por ver, sentir, e ouvir o canto das flores. Mas é que eu não sei bem ao que agradecer, então eu estou naquele estado de glória pura. Da emoção fluida na própria coisa. E eu não posso agradecer a Deus sem criminalizá-lo. Porque também me ocorrem coisas ruins. E se o Deus for mal eu não terei mais limites.

Nunca gostei de religionalizar o Deus, as coisas limitadas me doem e eu nunca entendo muito bem. Não que eu eu tenha chegado a entender o Deus, só pela mutabilidade isso seria impossível. Mas não gosto das responsabilidades do que não pode ser responsável. Neste mundo das sanidades nós não podemos julgar o que não concebemos. E Deus é tão inconcebível como nuvens são.

Olhe, pode parecer fora de questão e Deus não cabe na existência: eu sonho. Enfrento mundos inimagináveis e nunca vi Deus. Talvez só os anjos vejam, ou nem mesmo eles. Eles também não julgam o inconcebível, nós também não os vemos. E essa coisa de não enxergar dói tanto no humano, não enxergar. Então a fé é cega e deus é o escuro.

Por que aliar o divino à luz? E é por isso que é ininteligível. Nestas mentes confusas - e mesmo isto é confuso. E a carne não é clara e não é escura, e o intermediário é sempre sujo. As pessoas tem medo do escuro desde sempre. E quando vencem este medo não possuem mais sanidade.

Oh Deus seja claro na sua sanidade. Oh Deus não se faça na noite, pois mesmo a lua é ludibriante. Não seja o sol pois ele queima. Assim nos céus como na terra. Deus permita-se. Permita-nos.


Nostalgia litúrgica.